05/07/2022
Em um comunicado lacônico emitido pelo Itamaraty em novembro de 2018, logo após a eleição de Jair Bolsonaro, o Brasil declinou em sediar a COP 25, que aconteceria em Recife, a mesma capital do Nordeste que nesta metade de 2022 sofre os rigores da emergência climática com chuvas, inundações, destruição e mortes. Antes mesmo de assumir o governo, o presidente Jair Bolsonaro deixou claro que não estava entre suas preocupações cuidar de temas ambientais e climáticos.
Essa postura do governo brasileiro abriu a oportunidade para o Chile sediar uma das mais importantes conferências da ONU sobre temas ambientais e climáticos, dando, também, à sua então ministra do Meio Ambiente, Carolina Schimidt, a oportunidade de presidir a COP 25, que, por motivos de logística, apesar de formalmente ser organizada pelo Chile, aconteceu em Madrid, capital da Espanha, que se ofereceu para apoiar o país sul americano.
Carolina Schmidt foi Ministra da Educação de 2013 a 2014 e do Meio Ambiente entre 2018 e 2021, também serviu como Ministra-diretora do Serviço Nacional para as Mulheres do país. Formada em Business pela PUC/Chile. Ela foi convidada pelo Instituto Democracia e Sustentabilidade, com outras organizações, para falar sobre as oportunidades da economia verde na retomada pós Covid e o que está acontecendo em seu país nessa área.
O seminário Retomada Econômica Verde – o Brasil diante dos desafios climáticos – a experiência do Chile, teve a presença central de Carolina Schimidt, com a participação também de Tomas Alvim, representando o Insper e o Por que?, e mediação de João Paulo Cappbianco, pelo IDS. Capobianco apresenta a iniciativa dos Seminários “Retomada Econômica Verde” (serão cinco, Chile, China, Estados Unidos, França e Brasil) como um projeto que busca identificar experiências internacionais positivas do quadro climático do planeta. É, assim, trazer inspirações para o Brasil reafirmar o caminho nessa direção.
Para a ex-presidente da COP 25 o resultado foi uma frustração, não se conseguiu nenhum acordo vinculante e a ciência passou ao largo das decisões dos delegados presentes em Madrid. No entanto, foi a oportunidade para o Chile assumir um ambicioso plano para se reposicionar diante dos desafios da emergência climática global. O país lança o Marco de Mudança Climática, uma lei que prevê Carbono Zero até 2050. Além disso, são definidas 407 metas de transição para conseguir a planejada neutralidade de carbono, passo fundamental para a transformação verde.
Carolina Schimidt explica que seu país decidiu aportar 30 bilhões de dólares para projetos relacionados à economia verde. Em 2017 o país aprovou um imposto por emissões de carbono e carbono equivalente. “E isso foi uma questão para as empresas e indústrias afetadas. Fizemos um grande debate. O primeiro passo foi dado cobrando 5 dólares a tonelada, mas isso precisa aumentar”, explicou a ex-ministra.
Ela salienta que os investimentos chilenos estão fortemente vinculados à economia verde, e cita como exemplo a frota de ônibus elétricos nas cidades chilenas, só superada em número pela China. Também o fechamento de usinas de geração elétrica movidas a combustíveis fosseis. Em junho de 2019 o Chile faz aliança com o setor privado reduzir a dependência do país a esse tipo de energia. Foram fechadas oito centrais em cinco anos e serão fechadas 18 centrais antes do ano de 2024.
O passo final para a institucionalização dessa transição para uma nova economia de baixo carbono está sendo inscrito na nova Constituição do Chile, que está sendo escrita, com um robusto capítulo de Direitos da Natureza. A ex-ministra do Meio Ambiente alerta para a necessidade de agilidade nas transformações e conclama o setor privado a se engajar ainda mais nessa transição.
Veja como foi o segundo seminário sobre a experiência francesa.
Acesse o site do projeto para mais informações.
Leia também o nosso artigo Retomada Econômica Verde à brasileira: agenda obrigatória e de oportunidades.
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