Governança das cidades inteligentes e humanas

07/08/2015

Como criar cidades mais inteligentes e integradas pela tecnologia e, ao mesmo tempo, garantir que sejam humanas?

Essa questão norteou o debate do painel sobre “Governança” no último dia do evento “Connected Smart Cities – Cidades do futuro do Brasil”, realizado em São Paulo.

O painel reuniu especialistas dos setores privado, público e terceiro setor para debaterem sobre a promoção de políticas públicas otimizadas pelo uso de tecnologia e por indicadores confiáveis, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida nas cidades.

João Paulo Ribeiro Capobianco, presidente do Conselho Diretor do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), afirmou que não é possível discutir as cidades do futuro do Brasil sem antes discutir o futuro do Brasil. Por isso, ressaltou o trabalho do IDS na produção colaborativa da Plataforma Brasil Democrático e Sustentável, que propõe diretrizes para políticas públicas no país para um novo modelo de desenvolvimento. Dentre elas, destacou a necessidade deintegração das políticas urbanas para promoção do bem estar dos cidadãos, Proposta de Prioridade Máxima do eixo “Qualidade de vida e segurança para todos os brasileiros”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Para além do desenvolvimento tecnológico da infraestrutura nas grandes metrópoles, ainda é necessário pensar as cidades e políticas urbanas de forma integrada e a longo prazo, tanto para otimizar recursos, como para promover o bem-estar da população. Não são apenas as tecnologias, mas também a integração das iniciativas e a participação da sociedade que farão das cidades mais inteligentes.

Um grande desafio, por exemplo, é a gestão dos recursos hídricos na região das metrópoles em São Paulo, que estão sofrendo períodos de escassez pelo mau planejamento da gestão e pela degradação dos mananciais produtores de água.

Durante o evento, o IDS apresentou dados inéditos da pesquisa realizada em parceria com o Instituto de Energia e Ambiente da USP (IEE/USP) para analisar a crise hídrica à luz da cobertura jornalística entre 2014 e 2015. Capobianco aponta que após a deflagração e reconhecimento da crise hídrica pelo governo, em outubro de 2014, a voz predominante na mídia eram fontes oficiais do governo e que dentre as causas apontadas, a principal era a estiagem. Ao longo dos primeiros meses de 2015, percebeu-se que há um fortalecimento da voz da sociedade civil, principalmente após a criação da Aliança pela Água, e maior conscientização sobre os problemas da gestão pública. Ainda assim, soluções de longo prazo são pouco mencionadas pela imprensa.

Os resultados completos da pesquisa serão divulgados em agosto pelo IDS.

Cidades inteligentes têm inteligência coletiva

Andre Gomyde Porto, do Fórum Nacional de Ciência e Tecnologia da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), ressaltou a ideia de que cidades inteligentes não são apenas aquelas com tecnologia de ponta. Segundo Gomyde, para que uma cidade seja genuinamente inteligente, ela tem de usar da tecnologia para integrar soluções em prol da melhoria de vida de sua população e, portanto, uma cidade inteligente é necessariamente uma cidade humana. 

 Ele ainda destacou a oportunidade de incorporar inovações tecnológicas nos acordos de Parcerias Público Privadas, de forma que os municípios aproveitem a oportunidade para gerar maior eficiência no oferecimento do serviço a partir da concessão, como por exemplo, a introdução de smart grids em PPPs para iluminação pública.

Para o vereador Ricardo Young (PPS-SP), que foi moderador do debate, a governança das cidades torna-se cada vez mais complexa pelo crescimento acelerado e pela diversidade de atores. Existe ainda a questão política, em que o poder público tem interesses políticos fragmentados, segundo o vereador. “Todas as conversas aqui foram no sentido de identificar o poder público como um sujeito íntegro, uno, com uma vontade própria e definida, mas o poder público, na verdade, são múltiplos interesses entrelaçados, disputa de poder, pressão econômica, uma série de coisas…”

Ele critica a forma estanque como é encarado o poder público, as empresas e a sociedade civil organizada, e diz que é a interação entre estes atores onde está a formação da inteligência nas cidades. “Elas estão trazendo um novo nível de complexidade para entender o que é governança, e esse nível de complexidade exige uma descrição e uma identificação melhor dos múltiplos atores que operam. (…) Há uma disfunção no processo de gestão do interesse público e na forma como a sociedade civil organizada se organiza e interage com o poder público.”

Dessa forma, as cidades mais inteligentes “vão criar mecanismos multistakeholders e verdadeira participação da multiplicidade de interesses, inclusive aqueles em conflito. A partir dessa inteligência coletiva que não tem uma pré-apropriação, seja do interesse econômico ou político, vão se construir políticas públicas duradouras e se criar mecanismos de pactos duradouros em torno dessas questões, porque nós precisamos pensar em programas de 20 anos para a cidade”, defendeu Young.

 

     

 

Connected Smart Cities

Outros especialistas trouxeram sua visão sobre a governança das cidades inteligentes: André Gomyde Porto (presidente do Fórum Nacional de Ciência e Tecnologia da FNP), Juan Mikalef (vice-presidente de Arquitetura da Oracle), Elza Braga (diretora de negócios da Diagonal Transformação de Territórios), Ladislau Dowbor (professor da PUC-SP), Matheus Pedrosa dos Reis (diretor de negócios do setor público do Grupo Algar) e Mauricio Broinizi (coordenador da Secretaria Executiva da Rede Nossa São Paulo). O moderador da discussão foi Ricardo Young, vereador de São Paulo e conselheiro do IDS.

O evento aconteceu de 3 a 5 de agosto, no centro de eventos Pro Magno, em São Paulo. O IDS participou como apoiador institucional do evento.

Saiba mais sobre a 1ª edição em: http://www.connectedsmartcities.com.br 

 

* Por: Daniela Ades; Edição: Guilherme Checco

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