15/07/2015
Por Daniela Ades*
O conhecimento sobre a diversidade biológica tem crescido de forma estável ao redor do mundo, mas ainda está longe de cumprir as metas da ONU para a Década da Biodiversidade (2011 – 2020), cuja primeira meta é promover o conhecimento e envolvimento da população global com o tema até 2020. Essas são as principais conclusões da pesquisa “Barômetro da Biodiversidade” de 2015, conduzida pela organização internacional União para Biocomércio Ético (UEBT) em parceria com a IPSOS.
Entre março e abril de 2015, foram realizadas 9.000 entrevistas em nove países: Alemanha, Brasil, Equador, EUA, França, Índia, Holanda, México e Reino Unido.
Na edição de 2015, 69% dos entrevistados afirmaram já ter ouvido falar em biodiversidade, porém apenas 33% sabem dar a definição correta da palavra. Com relação a 2014, o crescimento no nível de conhecimento da população foi de 2%. Apesar do baixo crescimento relativo em relação ao ano anterior, a pesquisa mostra que as pessoas têm interesse cada vez maior sobre o tema, e isso afeta seus hábitos de consumo. Para 87% dos respondentes, é importante contribuir pessoalmente para a conservação da biodiversidade, e o número é ainda maior para países da América Latina e Índia (95%).
Diversidade biológica significa a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos, e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo, ainda, a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas. (Convenção sobre Diversidade Biológica)
A juventude foi destaque na pesquisa, apresentando grande nível de consciência e de interesse sobre o tema: a maioria (88%) quer contribuir pessoalmente para sua conservação e 50% acreditam que a biodiversidade é essencial. As principais fontes de informação da população sobre o assunto são: a televisão (38%), a escola (27%) e os jornais e revistas (25%).
Para Cristiane de Moraes, consultora de negócios e representante da UEBT para a América Latina, o crescimento de 2% verificado no último ano pela pesquisa pode ser explicado pela menor exposição do público ao tema e um menor esforço de comunicação.
Ela explica que, no período de 2009 a 2012, verificou-se expressivo aumento do nível de conhecimento das pessoas sobre biodiversidade após eventos mundiais que promoveram uma comunicação intensa junto à população global, como a declaração de 2010 como o Ano Internacional da Biodiversidade, o Protocolo de Nagoya e a Rio+20. “Se observarmos que a grande maioria da população tem um desejo em saber mais sobre o tema e que estas se informam na maioria por TV, rádio, jornal, revista e escola, podemos afirmar que temos um potencial gigante de melhorar este nível de conhecimento se tivermos a articulação para melhorar a comunicação, fazendo o uso dos meios identificados como principais.”
Além de ampliar o conhecimento da população global sobre biodiversidade, é necessário qualificar a informação, ou seja, aumentar o número de pessoas que dão a correta definição, e que além disso se interessam pelo tema. “Aí está a grande oportunidade dos governos, empresas em ter esta população interessada como aliada para não somente cumprir a meta estabelecida pela Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) da ONU para 2020, mas também promover a conservação da biodiversidade por meio de seu uso sustentável”, afirma Cristiane.
O que são as metas de Aichi
Em 2010, a ONU estabeleceu um conjunto de 20 metas de longo prazo, conhecidas como Metas de Aichi para a Biodiversidade, com objetivo de ampliar o nível de conhecimento das pessoas e reduzir a perda da biodiversidade no mundo. Elas estão organizadas em cinco grandes objetivos estratégicos: 1. tratar das causas fundamentais de perda de biodiversidade, fazendo com que as preocupações com a biodiversidade permeiem governo e sociedade; 2. reduzir as pressões diretas sobre a biodiversidade e promover o uso sustentável; 3. melhorar a situação da biodiversidade, protegendo ecossistemas, espécies e diversidade genética; .aumentar os benefícios de biodiversidade e serviços ecossistêmicos para todos; e 5.aumentar a implantação, por meio de planejamento participativo, da gestão de conhecimento e capacitação. A 1ª meta diz que a população global deve ter conhecimento e estar envolvido com o tema biodiversidade até 2020. Veja todas as metas aqui.
O Brasil integra a pesquisa da UEBT desde 2010, Ano Internacional da Biodiversidade. Nessa primeira edição em que o Brasil aparece, o país foi considerado o “campeão”, com 94% dos respondentes afirmando saber o que é biodiversidade e mais da metade oferecendo a definição correta do termo. Com relação aos outros países pesquisados, o País representa os maiores índices de envolvimento com o tema.
Cinco anos depois, a pesquisa de 2015 aponta que houve uma pequena queda da conscientização brasileira, agora representando 92% dos entrevistados.
Cristiane de Moraes diz que o número de pessoas que já ouviu falar em biodiversidade, tanto no Brasil como nos países latino-americanos, são maiores do que os outros países pesquisados. Ela destaca ainda que, no Brasil, o tema é bastante discutido e é levado em consideração na hora do consumo. “O brasileiro tem interesse em produtos que trazem ingredientes naturais em sua formulação, além disso, gostaria de ser mais bem informado pelas empresas sobre a origem destes ingredientes e declara também que esperam que as empresas tenham políticas que respeitem a biodiversidade”, afirma a especialista.
O Brasil é considerado o país com a maior biodiversidade do mundo, abrigo de mais de20% das espécies do planeta. Neste ano, o Brasil promulgou um novo Marco Legal sobre a Biodiversidade (Lei nº 13.123/2015) que estabelece as formas de acesso e exploração do patrimônio genético no país, em meio a debates e controvérsias, principalmente com relação ao compartilhamento dos benefícios com povos tradicionais e à valorização dos saberes tradicionais para uso dos recursos.
“Embora o novo marco legal seja foco de discussões, ele traz uma melhor clareza na sua aplicação, é menos burocrático e promove o uso da biodiversidade, porém é fundamental que os procedimentos e mecanismos que serão desenvolvidos nos próximos meses sejam inteligentes para que realmente a conservação da biodiversidade possa ser promovida através de seu uso sustentável e que este uso possa gerar benefícios para as comunidades produtoras, sendo fonte de recursos e agregando valor local, além de reconhecer o conhecimento tradicional destas populações, podendo manter a sua cultura”, defendeu Cristiane de Moraes.
Mesmo com um novo marco legal nacional, o Brasil ficou de fora da ratificação do Protocolo de Nagoya, acordo internacional que regulamenta o acesso aos recursos genéticos e o compartilhamento de benefícios da biodiversidade.
Durante a Roda de Conversa sobre Acesso ao Patrimônio Genético, realizada pelo IDS em 2013, uma das principais propostas resultantes da discussão era a ratificação do Protocolo de Nagoya, uma vez isso daria ao Brasil maior poder de influência nas negociações do mecanismo multilateral estabelecidas no âmbito internacional.
Realizada desde 2009 pela UEBT, a pesquisa “Barômetro da Biodiversidade” já entrevistou 47 mil consumidores em 16 países.
A União para Biocomércio Ético (UEBT) é uma associação sem fins lucrativos que promove o "fornecimento com respeito" de insumos que vêm de biodiversidade. Os membros que integram a UEBT adotam práticas de exploração dos insumos que promovem o crescimento sustentável dos negócios, o desenvolvimento local e a conservação da biodiversidade. A UEBT foi criada em 2007 como desdobramento da ONU para promover o envolvimento das empresas com o biocomércio. Saiba mais sobre a organização e sobre a metodologia da pesquisa do "Barômetro da Biodiversidade" em http://ethicalbiotrade.org/biodiversity-barometer/
* Daniela Ades é Analista de Comunicação; Edição de: Guilherme Checco é Analista de Conteúdo
Confira a publicação do IDS "Ampliar e intensificar a promoção de produtos da sociodiversidade":
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