06/06/2017
*José Luciano Duarte Penido e João Paulo R. Capobianco, O Estado de S.Paulo
06 Junho 2017 | 03h04
As efemérides são, em geral, oportunidades para festejar algo marcante ocorrido em determinado momento da História. São, também, ocasiões para relembrar os fatores que levaram à geração do fato meritório e refletir sobre as condições necessárias para que permaneçam os motivos de comemoração no futuro.
O Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado ontem, 5 de junho, é uma das mais importantes entre elas. Estabelecido pela ONU durante a Conferência de Estocolmo, em 1972, tinha como objetivo estimular o debate sobre a conservação do meio ambiente. Com o tempo, evoluiu e se estendeu para reflexões mais amplas, envolvendo a sustentabilidade em suas múltiplas dimensões: econômica, social e ambiental.
Nesse período de quase meio século desde a sua instituição, muita coisa avançou. Discussões sobre desenvolvimento sustentável deixaram o restrito campo dos movimentos ambientalistas e penetraram no mundo dos governos e dos negócios. Salvo algumas exceções, como o atual presidente dos Estados Unidos e os poucos céticos quanto às mudanças climáticas, a sustentabilidade entrou definitivamente no discurso de todos e na prática de muitos, em quase todos os setores da sociedade.
No Brasil, não foi diferente e a afirmação dessa agenda vinha evoluindo de forma significativa e estimulante. Os resultados obtidos no controle do desmatamento na Amazônia e na Mata Atlântica, a ação proativa na agenda climática, a ampliação significativa das áreas de proteção socioambiental, os ganhos de produtividade na agricultura e nas atividades florestais e o avanço, lento, mas consistente, das energias renováveis traziam perspectivas positivas. O País saía do banco dos réus em que esteve confinado por décadas como líder da degradação florestal e da violência contra os povos indígenas e populações tradicionais, para ganhar papel de liderança e o reconhecimento internacional.
Essa evolução, resultado de esforços e inflexões importantes na forma de compreender as relações entre desenvolvimento e conservação, no entanto, passou recentemente a dar sinais de estagnação e de retrocessos.
Num indesejável desvio de rota, várias iniciativas contraditórias com um projeto de País baseado numa economia de baixo carbono, sustentável e socialmente inclusiva passaram a ganhar espaço na agenda pública. Suspensão dos processos de criação de novas unidades de conservação e redução de outras já criadas, que comprometem a estratégia de proteção de áreas frágeis nos biomas brasileiros e o controle do desmatamento; mudanças nos procedimentos de reconhecimento das terras indígenas e quilombolas, que ameaçam até mesmo as existentes; e o refreamento dos esforços de contenção da grilagem de terras públicas e do desmatamento são alguns exemplos. Simultaneamente a essa agenda negativa, verifica-se uma paralisia na implementação dos mecanismos para tornar viável o cumprimento dos compromissos assumidos na Conferência de Paris, em 2015, festejados interna e externamente como uma tomada de posição exemplar do Brasil ante o agravamento das mudanças climáticas.
Ao contrário do que podem parecer à primeira vista, iniciativas como essas não guardam nenhuma relação com os aprimoramentos legais e políticos necessários para criar as condições para o desejável e necessário desenvolvimento econômico. Ao contrário, voltam a opor setores da sociedade que caminhavam para a uma inédita cooperação, estimulam a excessiva e deletéria judicialização de empreendimentos públicos e privados, criam um ambiente de indisposição com o País nas negociações internacionais e estabelecem constrangimentos aos investidores externos. Prejudicam, ainda, a comercialização dos produtos nacionais, num mercado cada vez mais exigente de padrões adequados de conservação socioambiental.
Interromper essa volta ao passado e retomar de forma ativa o caminho da sustentabilidade é o melhor para um país que detém 12% das florestas do planeta, ecossistemas únicos, riquíssima diversidade biológica, étnica e cultural e espaço para ampliar sua produção florestal, energética e agropecuária sem novos desmatamentos ou conflitos sociais.
Essa é a perspectiva preconizada pela Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura. Articulação inédita de 140 empresas, organizações da sociedade civil, associações setoriais e centros de pesquisa, que defendem a urgência de unir esforços para promover o estímulo à agricultura, à pecuária e à economia de base florestal competitivas, pujantes e sustentáveis, que simultaneamente garantam a proteção, o manejo, a restauração e o plantio de florestas, assegurem a disponibilidade de água e a conservação de ecossistemas e seus serviços ambientais. Para a Coalizão, essas são as premissas fundamentais de um modelo capaz de neutralizar as emissões de gases de efeito estufa do Brasil, fortalecer a resiliência e tornar viável a adaptação do País às mudanças climáticas e promover o desenvolvimento em bases sustentáveis.
Esses não são objetivos distantes. Ao contrário, muitas das soluções já estão dadas. O maior desafio, portanto, não é criá-las, mas dar escala às iniciativas bem-sucedidas voltadas para a agricultura de baixo carbono, a restauração e o manejo florestal certificado, a dinamização e incorporação à atividade produtiva das pastagens degradadas, a implantação dos dispositivos inovadores do Código Florestal, a ampliação da produção de biocombustíveis e demais fontes de energias renováveis e o controle da degradação florestal, entre outras que o Brasil tem desenvolvido de forma inovadora e consistente.
*Membros do grupo estratégico da Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura, são, respectivamente, presidente do conselho de administração da Fibria Celulose S/A e presidente do conselho diretor do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS)
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