28/04/2015
Por Daniela Ades*
Pesquisa inédita avalia degradação ambiental de mananciais e relação com escassez hídrica
Dentre os diversos fatores que levaram à crise hídrica no estado de São Paulo, poucas vezes foi mencionada a degradação ambiental das áreas de mananciais (fontes de água doce superficial ou subterrânea utilizada para consumo, segundo definição do MMA).
Em levantamento de notícias realizado pelo Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS) em parceria com o Instituto de Energia e Ambiente da USP (IEE), de janeiro a outubro de 2014, a imprensa apontou o desmatamento, a degradação das bacias e a intensificação do uso do solo como causas para a crise em 7 das 116 notícias analisadas que abordavam as origens do problema.
Faltam dados precisos e atualizados sobre a ocupação e uso do solo para compreender o contexto e as consequências da degradação ambiental nas áreas de mananciais e o seu impacto na produção de água.
É neste contexto que o IDS, o IEE/USP e o laboratório de geoprocessamento da Escola Politécnica da USP lançam o projeto “DETER Mananciais – Monitoramento das mudanças na cobertura e uso do solo dos mananciais da macrometrópole paulista por meio do processamento de imagens”.
A iniciativa é promovida no âmbito do acordo de cooperação técnico-científico assinado pelo IDS com a USP, em novembro de 2014.
O objetivo é compreender a influência da dinâmica de mudança na cobertura e uso do solo e a degradação histórica dos mananciais da Macrometrópole Paulista, utilizando ferramentas de geoprocessamento. Com isso, será possível realizar o monitoramento das alterações no uso e ocupação do solo e verificar o impacto ambiental causado ao longo dos anos nas regiões produtoras de água.
Neste momento, a pesquisa está na fase inicial, na qual a equipe de cinco pesquisadores do laboratório de geoprocessamento da Poli trabalha no desenvolvimento da metodologia de pesquisa.
Nesta etapa também está sendo feito o levantamento e preparação das imagens de satélites (Landsat, Resourcesat e CBERS) para a Macrometrópole, que engloba: quatro Regiões Metropolitanas (São Paulo, Baixada Santista, Campinas e a do Vale do Paraíba e Litoral Norte), três aglomerações urbanas (Jundiaí, Piracicaba e Sorocaba) e duas microrregiões (São Roque e Bragantina) (DAEE, 2013). No total, representa uma área aproximada de 52.000 Km², onde vivem 30,8 milhões de habitantes (75% da população estadual)¹. A análise abrange o período de 2005 a 2015.
Juliana Cibim, coordenadora do projeto pelo IDS, explica que o DETER tem como objetivo gerar e tornar acessíveis informações sobre degradação das áreas de mananciais para a sociedade. “Os dados gerados poderão influenciar políticas públicas já existentes e também novas políticas, inclusive integrando os temas de desenvolvimento urbano, poluição, biodiversidade, desmatamento, saneamento e uso do solo”.
Para o coordenador do DETER Mananciais na USP, prof. Dr. José Alberto Quintanilha, o projeto oferece um conhecimento novo e de impacto na gestão pública. “Acho que independente da situação de água e abastecimento, é um conhecimento importante saber exatamente como as coisas estão acontecendo para planejamento, intervenção e para políticas públicas”, afirma o docente do Procam e da Poli. Além disso, Quintanilha diz que é uma oportunidade de integrar alunos de engenharia e de outras áreas da universidade, principalmente aquelas ligadas à parte ambiental ou de água.
A parceria com o IDS, uma organização da sociedade civil, é uma oportunidade inédita para o laboratório de geoprocessamento da Poli. “A minha perspectiva é de que seja uma parceria perene. Enquanto existir o IDS e o laboratório, a gente pode continuá-la. E formando gente, desenvolvendo metodologia e discutindo assuntos de interesse público em geral”, diz Quintanilha.
A pesquisadora sênior, Bruna Botti Cruz, espera que os resultados da análise possam subsidiar uma ferramenta de gestão hídrica estadual. “Estamos vivendo todos os resultados da má gestão hídrica, que a gente vem colecionando ao longo dos anos. São vários fatores de manejo, de intervenção humana, que não foram talvez má pensadas, porque a gente sabe que as ações são bem estruturadas para o momento, mas, hoje, sabemos que elas estão defasadas e a gente precisa integrar ao máximo a gestão hídrica a outros fatores, como o caso da ocupação”, explica Bruna.
Estima-se que a divulgação dos primeiros resultados seja feita em junho. Os dados também serão utilizados na produção de mapas temáticos que demonstrarão a classificação e situação dos mananciais da Macrometróple de São Paulo.
¹ DAEE – Departamento de Águas e Energia Elétrica (2013): Plano Diretor de Aproveitamento dos Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista: Sumário Executivo. São Paulo. Acesse o documento.
*Daniela Ades é Analista de Comunicação do IDS
Parceiros