26/06/2015
Por Daniela Ades*
Associações empresariais e organizações da sociedade civil reuniram-se para o lançamento da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, nesta quarta-feira (24), em São Paulo. Diante de um auditório lotado de diretores de ONGs e instituições, presidentes de empresas, representantes da academia e do governo, a Coalizão apresentou um documento de 17 propostas focadas na economia de baixo carbono e na contribuição brasileira para redução das emissões de gases de efeito estufa.
Com a participação de mais de 50 entidades, além de outras dezenas de adesões ao longo do evento, a reunião de setores diversos em torno de uma agenda comum foi considerada "histórica" pelos integrantes da Coalizão. "Você coloca junto atores com visões bastante distintas ao longo da história, mas que começam a perceber que se começarem a remar juntos, a gente vai chegar no cenário em que todos ganham", afirma Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, ao IDS. A Coalizão é coordenada pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Diálogo Florestal, Instituto Ethos e Observatório do Clima.
As propostas estão reunidas em torno de dois principais eixos, que abordam: 1. Implementação do Código Florestal, regularização fundiária e cooperação internacional; 2. Mecanismos de valorização econômica do carbono e serviços ecossistêmicos; e 3. Combate ao desmatamento, incremento de estoques florestais e agricultura de baixo carbono.
"O Brasil é player e protagonista quando se fala em floresta e agricultura", afirma Marina Grossi, presidente do CEBDS, "por isso, a contribuição do Brasil na COP é fundamental nestas duas áreas". Para ela, a COP em 2015 será o marco inicial de um processo que deverá avançar nos próximos anos.
O papel da Coalizão após Paris é essencial em auxiliar como a sociedade vai interagir com as propostas de produção e proteção, afirma Gustavo Junqueira, presidente da Sociedade Rural Brasileira. Para Junqueira, vai ser necessário um esforço muito grande de adaptação. Ele destaca dois pontos principais que deverão ser foco para a transição: estimular o interesse dos consumidores para comprar produtos com características de sustentabilidade e a inovação tecnológica para produzir com sustentabilidade a níveis competitivos.
Com propostas presentes nos dois eixos, os compromissos com relação às florestas envolvem o desmatamento ilegal zero, a eliminação de produtos oriundos do desmatamento de toda a cadeia produtiva e também a valorização dos serviços ecossistêmicos e das Unidades de Conservação. Para José Luciano Penido, da Fibria, não existe solução para a questão climática sem envolver as florestas, portanto elas serão assunto chave nas negociações globais da COP.
Rachel Biderman, diretora executiva do WRI Brasil, falou sobre a necessidade de criação de condições para a transição de uma economia intensiva em carbono para uma de baixo carbono, o que vai requerer mudanças nos mercados financeiros e injeção de recursos. Neste processo de adaptação aos impactos das mudanças climáticas, será preciso auxiliar as populações mais vulneráveis e valorizar a importância da liderança das mulheres.
Boas notícias
Para o movimento recém lançado, muitos compromissos ainda estão pela frente. A Coalizão pretende dar continuidade à agenda de encontros com Ministérios do Governo para apresentar as propostas que tratam de políticas públicas e novos instrumentos econômicos, com o objetivo de influenciar a contribuição nacional para a COP e para além dela.
"A gente passa por uma agenda positiva e inclusiva, e por um momento em que o Brasil precisa de boas notícias. Estamos falando de uma nova economia, seguindo um caminho de sustentabilidade, de redução de emissões, para lidar melhor com os desafios das mudanças climáticas e ter ganhos econômicos também. O governo só terá a ganhar se ouvir as propostas e apoiar aquilo que vem como recomendação deste movimento grande que é a Coalizão", defende Carlos Rittl.
Além disso, para as empresas da Coalizão, o caminho agora é a implementação dos compromissos das propostas. Com as novas adesões, o grupo se fortalece, mas para os participantes do evento ficou claro que para levar a agenda adiante este é apenas o começo.
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*Daniela Ades é Analista de Comunicação do IDS
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